Monte Farinha
Há muitos anos atrás, andava um pobre moleiro pelas terras de Basto, com uma velha carroça de madeira puxada por um velho jerico. O moleiro levava consigo um moinho, um “pio de piar” ou sanfona, que utilizava para transformar o milho em farinha. As pessoas das povoações quando o ouviam acorriam imediatamente ao largo da aldeia com os seus sacos de cereais. E assim passava ele o dia, percorrendo uma e outra povoação.
Certo dia, encontrou no caminho uma senhora que fazia o seu trajecto a pé, debaixo de um sol escaldante. Compadecido com a graciosa senhora, o moleiro parou e ofereceu-se para a levar na sua carroça. Quando se aproximavam da citânia do Meão Grande (ou dos Palhaços), avistaram um grupo de mouros que a eles se dirigiam. O homem chicoteou o jerico para que ele andasse mais rápido e para que se escapassem dos mouros, mas o animal, assustado, meteu a pata entre duas grandes pedras, não conseguindo libertar-se. O moleiro saltou da carroça para auxiliar o jumento. Mas entretanto chegaram os mouros que o mataram.
A senhora, com medo, saltou da carroça para uma alta pedra que se encontrava ao lado, e disse: “Abre-te pedra! Faz-me esta graça!”. A pedra abriu-se, a senhora entrou, e voltou a fechar-se rapidamente. Ao verem isto, os mouros deixaram os grãos de cereais e a farinha e fugiram “a sete pés”.
O moinho, descontrolado, não parava de moer. Moeu… Moeu… Moeu… formando um monte muito alto de farinha. As pessoas das povoações vizinhas acorreram ao local, dizendo espantadas: “Que montes de farinha!”. Desde essa altura, este sítio ficou conhecido como Monte Farinha.
Quanto à senhora…, continua encerrada na Pedra Alta. O povo atribuiu este acontecimento a Nossa Senhora, construindo, no alto do Monte, uma Capelinha em sua honra para lhe agradecer a ajuda prestada à senhora da Pedra Alta, e deu-lhe por isso, o nome de Senhora da Graça.
Ainda hoje o Monte da Senhora da Graça é também conhecido por Alto do Monte Farinha.
A Capelinha da lenda é o actual Santuário de Nossa Senhora da Graça. A Pedra Alta que ainda existe, descobre-se facilmente por estar no ermo pintada de branco, e se não é menir, pelo menos está seguramente relacionada com o antigo “culto das pedras”, isto segundo a douta opinião de D. Domingos Pinho Brandão.